sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Entrevista - Frederico "Naroga"

O entrevistado do mês no Skate Saúde é um dos skatistas que mais vem fazendo pelo skate brasileiro nos últimos anos. Não com parte de vídeos, fotos, entrevistas ou manobras cabreiras, mas sim encabeçando uma das marcas de skate mais ativa no mercado nacional, realizando eventos importantes e principalmente valorizando os skatistas como verdadeiros profissionais. Um exemplo que vale a pena ser seguido e com certeza mais um guerreiro que corre atrás da evolução no skate nacional, confira agora uma pequena entrevista com Frederico “Naroga” o Supervisor de Skate da Converse.



Nome: Frederico “Naroga” Vicente Lima
Idade: 25 anos
Tempo de skate: 12 anos
Local: Nascido em Belo Horizonte MG, radicado em Novo Hamburgo RS

Nollie BS Flip Foto- André Ferrer

SS- Naroga fale um pouco para nós sobre o seu primeiro contato com o skate e quando você percebeu que ele faria parte de sua vida?
Meu primeiro contato com skate deve ter sido aos 5 ou 6 anos de idade, meus primos andavam de “tubarão” e naquela época dei algumas poucas remadas. Aos 13 anos mudei para uma escola em que meus amigos de classe já andavam com um skate mais moderno, era moda no colégio e a galera do skate era a que se dava melhor com a mulherada. Como já tinha equilíbrio e sabia remar (experiência adquirida nos tempos de criança) resolveram montar um skate para mim usado. Não esqueço a data dia 01/08/98. Daqueles amigos só eu continuo andando até hoje, acho que se deve muito ao fato de ser o único que trabalha com skate já que os outros não conseguiram conciliar o skate com as carreiras seguidas.
Ainda no meu primeiro ano de skate eu fiquei maravilhado com a etapa do Circuito Brasileiro de Skate que aconteceu na pista em que eu andava, a 501 SkatePark, que ficava ao lado da minha escola. Lembro que matei aula quando fiquei sabendo que Danilo Dandi tinha ido treinar um dia antes do treino oficial e eu, como fã número 1, não poderia deixar de vê-lo andar pela primeira vez. No campeonato eu fiquei impressionado com a estrutura, com tudo o que girava em torno da competição. Fiquei imaginando quantas pessoas estavam por trás de tudo, fazendo a coisa funcionar, tornando o trabalho dos skatistas mais fácil. Naquele dia soube o que queria fazer por toda minha vida, trabalhar para facilitar a vida dos skatistas.
Tenho guardado até hoje uma edição 75 da 100%SKATE que destacava os 50 maiores nomes do skate brasileiro e pensei comigo: “um dia quero estar ali, do lado do Biano Bianchin!” e é o que me motivou a começar.
Na verdade foi muito difícil para eu aceitar que não tinha os atributos necessários para seguir a carreira de skatista. Mesmo assim, aos 17 anos, fim de escola, tive que deixar o sonho do meu pai de me formar um engenheiro para seguir atrás do meu sonho, de viver do skate.

SS- Como esta a cena do skate mineiro comparando a época em que você começou a andar e os dias atuais?
Não está melhor na minha opinião, por uma infinidade de fatores, como por exemplo o fato de que tínhamos mais skatistas preocupados em seguir a carreira de forma a procurar oportunidades e não esperando que elas aconteçam de forma passiva.
O mercado local cresceu bastante, assim como o número de praticantes, mas a organização dos skatistas não seguiu o mesmo ritmo. Tem-se um dos maiores mercados do Brasil, um dos estados mais procurados para realização de tours e demos de marcas, mas não se tem uma organização, uma liderança como encontrados em muitas cidades brasileiras capaz de potencializar e absorver essas informações trazendo benefícios para o skate mineiro. Isso faz com que varias pessoas que desejam viver do skate procurem oportunidades e outras cidades e até em outros países.
Da forma que podemos tentamos ao máximo incentivar o skate mineiro: temos um skatista profissional (Jay Alves) com carteira assinada, anunciamos na contra capa do único zine do estado, realizamos demo e tours freqüentemente e patrocinamos o maior Circuito de Skate de Minas, mas acho que ainda falta muito mais para que meu estado tenha a importância e potencia de outros como RS, PR e até SC.

SS- Liste para nós os cinco melhores picos para se andar em Belo Horizonte.
1 – Praça 7
2 – Praça Hugo Werneck
3 – Escola Guinhart
4 – Estacionamento do Extra
5 – Mineirinho
Esses são os 5 melhores na minha opinião e que mais gostava e gosto de andar quando vou a BH, porém alguns deles hoje são proibidos...(risos)

SS- Atualmente você mora na região sul do país, como você vê o skate na região e qual a principal diferença entre o skate do sul do país e o de Minas Gerais?
As diferenças são muitas, mas acho que se resume na palavra UNIÃO. Ela é a engrenagem que faz o skate se movimentar no sul. Através dela conquistou-se o IAPI, pistas, criou-se marcas, lojas conceito, programas de radio,TV, associações, federação, etc. União em prol do interesse em comum e não de interesses próprios, isso ainda falta em Minas.



SS- Você já trabalhou em várias frentes do skate brasileiro, narrou campeonatos, fotografou, foi videomaker, proprietário de loja entre outras coisas, qual a sua maior motivação para continuar trabalhando com o skate?
O próprio skate. Infelizmente ou felizmente não sei fazer outra coisa na vida, e ter a oportunidade de criar coisas novas e fazer a diferença me motiva muito. Quero lutar para ser lembrado pelas contribuições ao skate da nossa época e que sabe até ter meio nome mencionado no meio daquelas 50 nomes listados pela 100%SKATE, imagina?
Motiva-me também a oportunidade de começar uma iniciativa do ZERO, poder desenvolver um trabalho baseado naquilo que acredito ao invés de dar seguimento a um trabalho já iniciado. É motivante ver a evolução das coisas, ver a semente virando árvore.

SS- Hoje você exerce o cargo de Supervisor de Skate na Converse, como foi sua entrada na empresa e no que consiste o seu trabalho?
A Converse entrou em contato comigo tomando conhecimento que eu estaria saindo do país para tentar a vida na Califórnia após sair da antiga marca de calçados para skate. Coincidentemente a marca tinha interesse para iniciar um trabalho voltado ao skate. Apresentaram-me o projeto e com isso vi muitas possibilidades de realizar um trabalho único e diferenciado.
Hoje meu trabalho consiste na execução e manutenção do Plano Estratégico criado em 2008 (na minha entrada na Converse) em assuntos relacionados à Produto, Vendas, Posicionamento mas que tem como foco o Marketing (promoção). Na verdade meu trabalho é muito facilitado, pois tenho na equipe de skatistas 5 consultores para marca que me ensinam e ajudam a cada dia na evolução do trabalho.

SS- Como funciona o seu cotidiano e onde você costuma andar de skate atualmente?
Minha rotina é viajar 40km por dia para ir trabalhar em Picada Café, onde a Converse possui seu escritório, e dividir meu dia aos assuntos referentes às minhas funções, sempre separando tempo para Comercial, Produto, Promoção mas principalmente aos skatistas que são a peça mais importante da nossa estratégia.
Esse segundo semestre minha rotina está um pouco atípica, muitas viagens e compromissos que me deixam um pouco afastado do skate. Mas normalmente ando na Pista Publica de Ivoti ou na de Novo Hamburgo (que fica a 2 quadras da minha casa) e nos fins de semanas no IAPI.

SS- A Converse vem realizando o “My Square” um “campeonato” com patrões bem diferenciados, como surgiu este evento, como tem sido sua repercussão dentro da empresa e o que podemos esperar dele para o próximo ano?
O My Square é uma adaptação do Converse Skateboard Square criado e realizado em 2008 pela 100%SKATE em conjunto com a Converse. O My Square foi uma adaptação feita por nós com o objetivo de tornar o evento mais democrático e acessível a todos, além de cominar em uma turnê nacional da equipe brasileira.
A repercussão dentro da empresa vem sendo muito boa já que estamos alinhando nossos eventos aos nossos princípios e objetivos, de resgatar a essência do skate. Inclusive o evento serviu como inspiração para um evento bem parecido produzido pela Converse no Canadá no primeiro semestre.
Para 2011 teremos algumas novidades, mas o formato foi aprovado pelos skatistas participantes e será mantido. Dessa vez a região sudeste será a contemplada, porém ainda não temos data definida.

IAPI: A Primeira Skate Plaza from Fuego Skate on Vimeo.

SS- Por falar em evento, a Converse também realiza o “Fix to Ride”, que para mim é um dos melhores eventos já realizados no país pelo fato de valorizar pistas históricas do skate brasileiro, como é fazer parte desta ação, como é feita a escolha do local a ser realizado e qual o seu papel na realização do evento?
Quanto ao Converse Fix to Ride devemos primeiramente agradecer muito aos nossos “hermanos” argentinos por terem criado a ação. Também temos que agradecer a Converse por ter em seu DNA um espírito rebelde, de se defrontar com problemas políticos e sociais ao longo dos anos. E por ultimo agradecer a nossa diretoria no Brasil por acreditar na forma e diferença que essa ação tem para o mercado brasileiro.
Agradeço o titulo dado por você para o Fix, mas, para nós o Fix to Ride não é um evento, é mais do que isso, é uma iniciativa onde faz parte do seu gran finale a realização de uma competição que na verdade é um evento de confraternização.
A escolha do local é feita pelos próprios skatistas. Tanto o IAPI quanto o Bowl do Arpoador foram locais apontados por skatistas, através de movimentos de mobilização e protestos, como locais ameaçados ao desuso e até à demolição (respectivamente) pela falta de manutenção do espaço.
Minha função no Fix assim como em todos eventos da Converse é o planejamento e execução.

SS- A Converse não é somente uma marca de skate, mas sim uma multinacional com uma visibilidade muito grande, qual a principal diferença em trabalhar nela para uma marca focada apenas no mercado de skate?
Com certeza a estrutura! Sem sombras de duvidas as multinacionais possuem mais ferramentas para o desenvolvimento do trabalho embora existam outras grandes dificuldades por esse mesmo fator, como políticas, brand guides, etc.
No caso da Converse em especifico a vantagem é que a marca é praticamente um produto de marketing, existe a 102 anos tendo como carro chefe um produto criado em 1917 e que ao longo dos anos se tornou o tenis predileto e mais vendido no mundo graças exclusivamente a sua historia, o Chuck Taylor All Star. Isso facilita bastante o trabalho do marketing uma vez que o skate também vive da historia, tanto a escrita no passado quanto a vivida no presente e ainda quanto a historia que está sendo planejada para o futuro.

SS- O que falta para melhorar ainda mais o mercado brasileiro de skate?
Respeito ao skatista, ao ídolo. É a principal diferença entre o skate no Brasil, nos EUA e no mundo. Nesse quesito com certeza somos os piores do mundo. Para os EUA, por exemplo, um skatistas de 30 anos está na sua melhor fase profissional (consciência de skate, maturidade física e mental, profissionalismo) e o skatistas de 40 anos é mantido na equipe (mesmo sem andar de skate) por que a marca acredita que a imagem e a historia criada durante sua carreira é importante, e por que não indispensável, para manter as raízes da marca e para servir como exemplo e desejo para as próximas gerações. Ou seja, para que esses skatistas sejam embaixadores, advogados, ídolos da marca.
Na America existe uma grande preocupação em manter os ídolos antes de criar outros, em se manter as raízes para se ter os frutos. No Brasil o skatista consegue seu primeiro patrocínio aos 20, aos 25 passa para profissional e aos 30 é considerado velho: que tipo de exemplo de carreira queremos dar para as próximas gerações de skatistas? O de que a carreira de skatistas profissional é apenas uma passagem, uma especialização para que ele exerça no futuro uma função administrativa nas marcas de skate quando atingir os 30 anos de idade. Estamos em uma fase realmente muito complicada, temos que refletir sobre isso e começarmos a agir.

SS- Qual seria a trilha sonora da sua vida, liste para nós cinco músicas que podem traduzir um pouco da sua história.
Caramba! Essa é difícil.
Wu Tang – Mistery of Chessboxin (coloquei essa agora para responder o resto da entrevista)
Mobb Deep feat Nas – Its Mine
Antix – Seven Seas
Dead Mouse – Faxin Berlin
Kid Cudi – Embrace the Martian

SS- Como você acha que o skate vai estar daqui a dez anos com relação a manobras, mercado, vídeos e tudo que envolve a cena?
Acho que essa é a única pergunta com resposta incerta da entrevista. Mas de uma coisa tenho certeza, pelas contribuições na arte, moda, musica, cultura o skate vai estar totalmente impregnado na cultura popular, no cotidiano da população mundial.
Quanto a manobras acredito que o skate vai ser reinventado varias vezes durante esse tempo, com criações e evoluções assim como tivemos com a Mega Ramp, drops de helicópteros, não dá para prever.
O mercado brasileiro, espero eu, estará mais organizado, com distinção bem grande do mercado de surf e com respeito aos profissionais.
Sobre vídeos fatalmente como acontece hoje, estará bem a frente de outros esportes, explorando ao extremo as evoluções dos recursos cinematográficos da época.

SS- E você, quais seus planos para o futuro?
Quanto aos meus planos profissionais ainda tenho muito a realizar na Converse. Sonho ainda em desenvolver na marca um produto de marketing único e inovador que vai revolucionar o mercado de skate de tão forma a interferir no mercado não segmentado e deixará os skatistas da Converse ainda mais tranqüilos quanto às suas carreiras.
Mas na verdade a tarefa mais difícil e que faz parte dos meus planos é manter a Converse nessa batida constante de realizações e contribuindo assim para o crescimento do skate do Brasil.
Quanto ao pessoal quero dedicar mais tempo e evoluir no skate e, como pessoa, me aperfeiçoar, escutando as pessoas e servindo cada vez mais.

SS- Qual a principal lição que o skate te ensinou até hoje?
Felizmente não consigo listar uma, mas acho que as principais, as que levo para minha vida são: respeito, disciplina, concentração, controle, organização, planejamento, perseverança, evolução, perfeição, humildade e criatividade.

Agradecimentos:
Tenho uma lista já montada de agradecimentos, são as pessoas que estiveram, estão ou estarão sempre comigo contribuindo para minha vida profissional ou pessoal. Agradeço minha família e a Deus para começar. Ao Rogerio Ninja, Isaias Twister, Hilton VGS, Biel, Pudim, Felipe Meyer, Ale Vianna, Stanley Mitev, Marcio Tanabe e mestre Moca. A Carol, Molocope, Tio Rori, Manu e Tia Ana. Aos meus eternos amigos de BH, Mauricio, Guinho, Gustavo, Thiago, Paulo Tarso e Rosangela. A minha escola de marketing Danilo Dandi, Rafael Russo e Gui Zolin. Ao Gringo, Tânia, Rica, Mel, Samir e Lis. Ao Diego e São por me agüentarem há 3 anos, a Grazi minha namorada pela inspiração. E, é claro, a minha família por opção: Jay (meu eterno irmão), Crazy, Biano, Renatinho e Carlos Ribeiro.

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