quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Skate e Arte com Pedro "Driin"

O skate e a arte desde o início caminham lado a lado e por conta disso muitos skatistas acabam se tornando artistas renomados em diferentes ambitos artísticos. Para mostrarmos este lado artístico de quem anda de skate por amor batemos um papo com o artista Pedro Driin que na adolescência se divertiu muito com o carrinho e hoje usa o skate como suporte para suas obras. Alem de ter um estreita relação com uma das marcas que fazem um grande trabalho com o skate no Brasil, a Ogio, ele vem espalhando sua arte na pele de muitos skatistas pelo mundo a fora, confira como foi nossa conversa.
SS- Como começou sua relação com a arte e quando você começou a produzir seus trabalhos?
Radicado em Florianópolis a cerca de 15 anos, meu trabalho é uma fusão de técnicas, suportes e expressões.

SS- Quais os suportes que você utiliza hoje em dia para realizar seus trabalhos?
A questão artística é uma coisa muito interessante, pois na real para mim é algo muito natural, pois continuo fazendo o que sempre fiz desde criança, desenhar. Então essa coisa chamada arte, no meu caso, é muito mais uma relação das pessoas com aquilo que desenho e ilustro, do que algo colocado num pedestal. O desenho para mim foi e é algo como um passatempo, uma espécie de fuga, de cura, muitas vezes de transe, e foi assim que consegui dialogar com o mundo e com as pessoas, visto que, a grande questão vem a ser a minha intenção com o desenho, o desprendimento, e a aplicação. Desenho em pessoas, tatuagem, este é meu oficio a 10 anos, resolver graficamente uma subjetividade, seja estética, simbólica ou ambas, e aplicá-la no corpo das pessoas, tal técnica é denominada cientificamente de dermo-pigmentação, em muitos casos foi vista como um ritual, em tribos e comunidades ancestrais, mas em suma é um desenho.
Também desenho em muros, no computador, em objetos, e dependendo do suporte e das relações, culturais, sociais e econômicas, denominamos, graffiti, design, arte, enfim, desenhos. Dessa forma, construí minhas redes de relacionamento, afetivos e profissionais, e venho conseguindo uma inserção no campo das artes principalmente pela poesia traduzida em cores.
Na verdade o corpo é o mais nobre porem geralmente é uma encomenda os desenhos cores e a mensagem como um todo, na rua a liberdade é plena, além disso, tenho uma estranha obcessão em pintar objetos achados em lixeiras e nas ruas e com certeza tenho como mídias tradicionais.
SS- E a tatuagem quando você despertou para esta arte milenar e como é lidar com esta enorme responsabilidade?
No ano de 2000 conheci um tatuador de rua que estava a viajar pelo sul do Brasil, tive uma das minhas primeiras relações com a tatuagem e de como não se fazer tatuagem desde as questões de higiene a questão artística, porem depois de uma semana observando o tatuar ele foi embora e me deixou o material. Fiquei uns dois meses olhando para aquele material até que tomei coragem fui a procura de informação e adquiri um material novo básico, porem ate hoje tenho aquela maquina.
Para mim a tatuagem é meu oficio, meu equilíbrio e aprendi muito com as pessoas que trabalhei nesses anos de trajetória. Hoje dedico quase todo meu tempo em meu studio VIIDA Tattoo em Florianópolis na Lagoa da Conceição desenhando e tatuando.

SS- Hoje em dia a street art ganhou um espaço muito grande dentro do mercado publicitário, galerias de rua e aceitação das pessoas, como você encara este processo e como vai ser o futuro da arte de rua brasileira na sua opinião?
Intervenção urbana, esse vem a ser meu mais intenso objeto de pesquisa e de desejo, por meio desse dialogo no espaço urbano quero desenhar minhas subjetividades com finalidade de possibilitar diferentes reflexões e sensações em relação aos grandes canais de mídia que visam transformar a comunicação visual em algo alienante e com objetivos meramente comerciais. Outra possibilidade de aplicação é questionar um pouco a comunicação urbana que nos trata como formigas, re-simbolizando os tradicionais signos e códigos, com símbolos e ícones diferentes do pare, siga, proibido, 60, 30, mas tudo isso esta apenas em caráter experimental, a maior expressividade de meu trabalho ainda esta na questão pictórica.
A questão do mercado e a grande aceitação das mídias é algo natural com todo movimento cultural de potencia, a linha é muito tênue entre o abismo e a prostituição. Acredito que fazer arte é algo da natureza humana é uma religação com sua essência, a arte na rua é um dos movimentos culturais mais presentes no mundo todo porem por traz da adrenalina da capacidade de questionamento e da cultura original vem o mercado, a instituição, e as mídias para validar, rotular, vender e este processo faz parte do campo da arte desde anterior ao renascimento e o futuro realmente é imprevisível.
SS- Como surgiu sua parceria com a Ogio e como funciona o seu trabalho de customização das mochilas?
Tudo começou com uma pintura numa mochila, toda parceria e respeito vieram através da arte aplicada em uma bag. É uma interação entre arte e funcionalidade uma espécie de suporte artístico que vai com as pessoas onde elas estão deixando a bag funcionar como “quadro” ou obra e ao mesmo tempo sua casa ambulante.
Minha primeira relação com a Ogio foi uma pela necessidade de usar algo de qualidade, pois ando todos os dias da minha “viida” de mochila desde os meus 15 anos. Quando surgiu a possibilidade de adquirir um equipamento Ogio, foi um casamento perfeito, parecia que cada espaço tinha sido produzido para me ajudar e agilizar meu rolê. Todos os dias carrego comigo minha casa nas costas e por uma mania de tratar as coisas não apenas como objeto, mas com certa carga sentimental, minha Ogio á minha companheira, nela coloco minhas máquinas de tatuagem, minhas canetas, cadernos, computador, roupas, latas de spray e meus sonhos e saio pelo mundo a desenhar.

SS- Qual a sensação de fazer uma pintura na rua e depois ficar observando as pessoas interagindo com o seu trabalho?
Inacreditável o que o graffiti fez com o campo da arte, democratizou a pintura e acredito que o fato de estar presente nas ruas e dialogar com as pessoas faz com que a mensagem de cada artista seja colocada no mesmo patamar das grandes mídias hegemônicas o que pode incomodar uns dominantes e “libertar” os demais receptores, no meu caso é tão intenso que algumas pessoas pedem para eu tatuar essas “mensagens” que eu pinto em forma de mulheres no corpo delas de tão forte que é a identificação.
SS- O skate e a arte de rua caminham juntos a muito tempo, qual a sua relação com o skate e já surgiu alguma oportunidade de conciliar seu trabalho com o carrinho?
Andei de skate na minha adolescência. Porem nada expressivo em termos de performance, mas a cultura visual do skate sempre me fascinou e ficava copiando os desenhos dos shapes e colecionando adesivos. Atualmente desenho em shapes como expressão artística e já customizei também para serem entregues como troféu em eventos com a Ogio, Red Bull e pistas para campeonatos, acho muito interessante a questão da linguagem da tattoo com o skate, mais ainda do que com arte de rua e acho que o skatista tem a cidade como sua escultura e as marcas das rodinhas são suas tags.

SS- A saúde de uma pessoa não se limita somente ao seu bem estar físico, mas também ao psicológico e social, você acha que de certa forma sua arte e de outros artistas podem contribuir com a saúde das pessoas?
Luz, amor, e “viida”. Essas são três palavras chaves para meu trabalho. Luz, este vem a ser o fator nos diferencia dos cadáveres, “viida”, pois realmente me questiono quantas pessoas realmente vivem, e o que fazer para que esta passagem aqui tenha um sentido maior do que apenas acumular riquezas materiais e vivenciar as possibilidades decretadas pelos meios de comunicação. Amor, pois este vem a ser a grande busca do ser humano, partindo do amor próprio este sentimento vem a ser a grande evolução como ser humano e sociedade, visto que atualmente a religião como instituição, o capitalismo, nem a tecnologia conseguem suprir esse vazio que reflete em nossos olhares. Atualmente busco minha inspiração numa religação com um outro plano, e também nos pequenos detalhes da mulher,poéticos, estéticos e sensuais banalizados pela sexualidade apelativa da imagem feminina em nossa cultura.

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